6 de junho de 2016

Marla de Queiroz


Certas tristezas doem mais porque vêm com uma delicadeza infinita. 

É como se, no lugar do grito, apenas o seu peito 

espremido, mas mudo. 

O choro não é contido, mas a voz embargada. 

A lágrima fica presa na sua expressão e os olhos lânguidos, meio adoecidos, uma beleza 

de fragilidade na feição.
 
Certas tristezas são muito discretas. 

Seus hematomas são familiares, suas fraturas não são expostas.

E, de tão explícitas, pouco se mostram. 

Você fica melancólica, distante, quase indiferente ao resto de tudo. 

Você sabe que vai passar, mas naquele momento não acredita: de tão inapetente, apenas 

contempla sem saborear a 

escuridão cobrindo o mundo. 

É dor que dói em silêncio sem o alvoroço da aflição: espécie de tristeza concisa.

É tristeza que dá sono, o cansaço prematuramente perdoado. 

A vontade de se recolher e se acolher por ter algo que nem ao menos possa ser

compartilhado.

Certas tristezas vêm como a fotografia de uma árvore frondosa e solitária… Numa 

paisagem bonita.

Certas tristezas grudam em nós à espera de uma boa notícia.


Marla de Queiroz.

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