Certas tristezas doem mais porque vêm com uma delicadeza infinita.
É como se, no lugar do grito, apenas o seu peito
espremido, mas mudo.
O choro não é contido, mas a voz embargada.
A lágrima fica presa na sua expressão e os olhos lânguidos, meio adoecidos, uma beleza
de fragilidade na feição.
Certas tristezas são muito discretas.
Seus hematomas são familiares, suas fraturas não são expostas.
E, de tão explícitas, pouco se mostram.
Você fica melancólica, distante, quase indiferente ao resto de tudo.
Você sabe que vai passar, mas naquele momento não acredita: de tão inapetente, apenas
contempla sem saborear a
escuridão cobrindo o mundo.
É dor que dói em silêncio sem o alvoroço da aflição: espécie de tristeza concisa.
É tristeza que dá sono, o cansaço prematuramente perdoado.
A vontade de se recolher e se acolher por ter algo que nem ao menos possa ser
compartilhado.
Certas tristezas vêm como a fotografia de uma árvore frondosa e solitária… Numa
paisagem bonita.
Certas tristezas grudam em nós à espera de uma boa notícia.
Marla de Queiroz.
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