29 de novembro de 2013

Gabito Nunes

Promete que não conta a ninguém? Certo, eu tinha este sonho seguidamente. Eu ficava esperando muito tempo, até que o ônibus finalmente chegava. Eu estendia a mão, ele parava, e quando eu levantava o olhar pra checar a lotação, eu via você. Quer dizer, um cara. Mais ninguém, só você. E eu sabia. Simplesmente sabia que era você, que era ele. Que era minha vez de subir, que tinha um assento reservado com meu nome. Mas eu ficava paralisada, com vergonha e sem saber como agir, sem saber onde pôr as mãos. No fundo, eu tinha medo de subir porque eu teria de tomar a iniciativa, chamar atenção, fazer alguma coisa que fosse. Era mil vezes mais confortável enquanto eu esperava, esperava, esperava. Aí o ônibus arrancava e você, esse cara, girava o pescoço e ficava olhando pra trás, uma carinha linda de cão abandonado, até sumir na esquina. E eu ficava lá, parada, com os pés encravados no chão, vendo minha chance passar. Aí eu acordava ensopada de suor e me achando a mais covarde do mundo.

Gabito Nunes.

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